domingo, 23 de janeiro de 2011

Escola para os Maasai


Em sua recente viagem à África, após entregar medicamentos a um hospital administrado por uma congregação católica portuguesa, o médico uruguaianense Raul Antônio Valls foi ver de perto a situação dos Maasai, no Quênia. Com a demarcação de reservas para a fauna africana e as alterações climáticas, a tribo está encontrando dificuldades para sobreviver da caça e do pastoreio seminômade de seus rebanhos. "Dormi numa habitação construída com esterco. Depois que entrei, colocaram uns espinhos na porta para evitar que algum animal entrasse", conta o pediatra.
O fotógrafo Justo Casal, consultor da ONU, com publicações na BBC e no The New York Times, que estará em Uruguaiana para uma exposição com Raul Valls em março, lembra que não adianta falar em direitos humanos quando se trata de uma sociedade como a Maasai, sem as condições mínimas para humanizar a vida que levam.
Ao ver as crianças, protegidas por uma maneata (cerca feita com um arbusto espinhento para proteção contra o ataque de predadores), tendo aulas de inglês a céu aberto, por iniciativa de um grupo de jovens que viram no estudo universitário uma alternativa para a vida no gueto, Raul Valls não conteve a emoção. Ao deixar a tribo, numa cerimônia em que recebeu honrarias Maasai, o médico prometeu seu empenho para ajudar a construir uma escola para as crianças.
O projeto do engenheiro Pedro Alexandre Pitella para um prédio de 70 metros quadrados, onde funcionará a Nursery School Uruguaiana (Escola Infantil Uruguaiana) está orçado em R$ 21 mil. Para arrecadar este valor, Raul tem empenhado seu círculo social e busca o apoio da comunidade uruguaianense. "Essa escola já existe, debaixo de uma árvore", diz o médico. Ele ressalta que o projeto permitirá que os alunos tenham, de fato, condições de aprender. Raul acredita ainda que a construção da escola é um compromisso de mão dupla. As crianças, que têm em John e Daniel, dois maasai universitários, um modelo para seguir, vão se sentir valorizadas, "seu empenho em aprender será nossa retribuição", acrescenta.
Para promover o projeto, o uruguaianense, junto com Justo Casal, realizará uma exposição com as fotos e objetos da tribo. Será uma das formas de mostrar à comunidade da cidade da Fronteira-Oeste do Estado a cultura de um povo especial, com uma vida de adversidades. A Aids, a malária e a falta de comida - e de perspectiva - castigam a população. "É verdade que tem muita carência aqui também, mas nós precisamos olhar ao redor. Essa é nossa oportunidade de existir na vida dessas pessoas, lá na África, de fazermos algo por uma população inteira", conclui o médico Raul Valls.

Fonte: Correio do Povo, 23.01.2011