quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mais se beneficia quem melhor serve


A busca por um potencial multiplicador em seu trabalho voluntário é a principal motivação do pediatra Raul Valls na atualidade. Esse esforço vem proporcionando avanços e benefícios nas diversas áreas onde atua. Seja na África ou em Uruguaiana, a atuação de Valls gera manifestações positivas por todos os lados. E com isso, ele vem acumulando alicerces importantes em seu trabalho comunitário.
Viajante por paixão, Valls é um turista incansável. Em suas incursões pelo mundo, quando está de folga no consultório ou na Santa Casa de Uruguaiana, ele capitaliza amizades onde quer que esteja. Suas aventuras pelo planeta já renderam até mesmo um livro de contos. "Minha rotina é fazer amigos", frisa sempre ao se referir às suas andanças pelo mundo.
Em uma dessas passagens, conheceu o Continente Africano, pelo qual se deslumbrou e apaixonou-se.  Pela beleza e pela carência. A primeira lhe encheu os olhos. A segunda lhe preencheu o coração.
Por isso, a partir de 2010, em contato com o voluntariado, resolveu auxiliar uma comunidade do Quênia, um dos países mais pobres do mundo. Em conjunto com o Movimento Rotário conseguiu realizar o projeto "Mãos Dadas com a África", construindo uma escola no meio de um ponto esquecido no meio do nada junto à tribo Masai.   
Consciente de que poderia ajudar ainda mais, mesmo depois de ter chegado aos 70 anos, Valls não economiza esforços.
Agora sua atenção está voltada ao hospital que lhe abriga há 47 anos. Na Santa Casa de Caridade de Uruguaiana o pediatra acompanha as dificuldades inerentes ao setor de saúde, mas não esmorece. Pelo contrário, está sempre disposto e disponível para um projeto que contemple a casa de saúde. "Sou um admirador do trabalho da equipe de projetos do hospital", disse ele, em recente sessão ordinária da Câmara de Vereadores, onde foi levar a sua mensagem.
Mesmo assim, o Hospital tem urgências. Por isso, estabeleceu uma meta veloz: dotar o hospital de uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Saiu à cata de mecenas. Ninguém disse não. Todos sabem da seriedade do trabalho do médico. Por isso, o projeto "De Mãos Dadas com a Santa Casa" está produzindo exemplos de uma união de esforços em benefício do hospital e do setor que o médico atende. "Somos hoje uma especialidade em extinção", ressaltou, referindo-se ao que diariamente constata nas suas atividades rotineiras.
Com o projeto, Valls uniu o útil ao agradável. De suas viagens, selecionou fatos e fotos deslumbrantes. O livro "Diário de Bordo - Fotos e impressões de um médico", cuja venda de exemplares da primeira edição renderá valores que irão ser investidos na UTI Pediátrica da Santa Casa, já é um sucesso. "São 250 páginas de muito suor", costuma dizer ao fazer referência ao livro.  Com o valor de R$ 100 por exemplar, ele crê chegar aos R$ 50 mil, que seriam suficientes para a aquisição de um respirador artificial para um dos leitos. "O valor para o outro respirador, poderemos arrecadar com o poder de solidariedade da comunidade de Uruguaiana", garante, já provocando a união de esforços de todos para o empreendimento.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Solidariedade em um momento de dor

Exemplos de solidariedade em um momento de tragédia. Essa é a síntese do que aconteceu em Uruguaiana na noite de segunda-feira (6).  Duas famílias abaladas pela dor da perda, sensibilizadas pela necessidade de doação de órgãos e atendendo pedidos das vítimas em vida, decidiram abreviar o sofrimento dos componentes da rede de lista de espera por órgãos.
Num dos casos, em Alegrete, um motorista de 52 anos, durante o trabalho, caiu do alto do teto de uma residência. Na queda, bateu forte a cabeça. Mesmo resgatado com vida, era uma lesão muito grave. Deslocado para o setor de alta complexidade em Neurologia do Hospital da Santa Casa de Caridade de Uruguaiana, foi constatada a morte cerebral ainda na noite do acidente. Segundo a filha da vítima, o motorista, que nas horas vagas trabalhava na construção civil, era uma pessoa que se cuidava muito, sem vícios ou exageros. “Até mesmo na alimentação ele era regrado”, lembra. Por isso, sempre deixava claro que se algo ocorresse, desejava que seus órgãos fossem doados.
Em Santiago, no mesmo dia, uma mulher de 50 anos, que não apresentava qualquer sinal de problema físico, sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) grave. Deslocada para Uruguaiana, o setor de Neurologia do HSCC constata sua morte cerebral. Consternada com o fato, a família também demostra vontade de auxiliar alguém que esteja na lista de espera por transplantes.
O Rio Grande do Sul, que já foi o número um em transplantes no país, respeitada a proporção em relação à população, está agora em terceiro lugar nessa delicada modalidade de cirurgia, atrás de São Paulo e do Paraná. O número de doações de órgãos concretizadas vem caindo ano a ano no Estado. Por isso, o cirurgião Juliano Martini, que coordenou as equipes em Uruguaiana, esclarece a importância do gesto das famílias de Alegrete e Santiago, na doação de órgãos. Duas equipes da Central de Transplantes de Órgãos do Estado estiveram na Santa Casa para a captação. Uma responsável pela retirada de rim e fígado e outra pela retirada do pulmão.
Tanto rim, como fígado foi implantado nos receptores ainda nesta terça-feira. Já o pulmão retirado ainda deveria passar por bateria de exames até chegar ao receptor.
A equipe de enfermagem do HSCC auxiliou os cirurgiões na realização da retirada dos órgãos. No hospital, a equipe ten a coordenação do médico Luiz Fernando Cibin e contou com a participação das enfermeiras Jossana Aguilar, Adriana Prause, Andrise Porto Alegre e Glaucia Fenner e da secretária Giliane Suarez. Cibin salienta que o fato de haverem dois doadores simultâneos em Uruguaiana aptos para doação, como ocorreu nessa situação, não é comum. Por isso, a importância do que aconteceu.
O procedimento para a retirada dos órgãos durou aproximadamente três horas. Os nomes dos pacientes e de seus parentes foram omitidos nesta reportagem a pedido das famílias.
Um estudo da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, integrada pelas centrais de doações espalhadas pelo Brasil afora, aponta que mais da metade das doações no Rio Grande do Sul (60%) não se concretizou porque os familiares do doador em potencial não autorizaram a cirurgia. Os 40% restantes de doações não efetuadas ocorreram porque havia contraindicação médica. Das notificações de morte encefálica em comparação com doadores efetivos no Rio Grande do Sul, há ainda uma disparidade muito grande. No ano passado, ocorreram 579 mortes encefálicas, contra apenas 201 doações.
O Brasil é responsável pelo maior sistema público de transplante do mundo e os cuidados se estendem até os medicamentos pós cirúrgicos. Existem hoje no País 27 centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos; 11 câmaras técnicas nacionais; 748 serviços distribuídos em 467 centros; 1047 equipes de transplantes; e 71 organizações de procura por órgãos.
Em 2013, não ocorreram, segundo a Central de Transplantes, procedimentos no Hospital da Santa Casa de Caridade de Uruguaiana.