sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Formatura com sabor de superação para acadêmica

Entre os 29 acadêmicos de Direito que se formam hoje na PUCRS, em Uruguaiana, uma tem motivos de sobra para festejar a conclusão do curso. A cerimônia às 20h, no Centro de Eventos da universidade, será especial para Rafaela da Silva, 23 anos, filha única da professora Fátima Samurio da Silva. A jovem, nascida em Santa Maria, superou o mal congênito que tirou sua visão nos primeiros dias de vida. Aos 5 anos, ela já sabia ler e escrever em braile. A persistência permitiu que concluísse o curso com nota 10 na monografia sobre 'O comércio eletrônico e a aplicabilidade do Código Civil e do Código do Consumidor – a necessidade de uma lei especial'. 
Rafaela recebeu da PUCRS, conforme portaria, todo o material transcrito para o braile, o que viabilizou seus estudos. De mágoas e discriminação, ela prefere não falar, mas avalia que 'a sociedade busca defeitos, podendo chegar à crueldade em determinadas situações'. Para a formanda, os deficientes contam com dispositivos importantes, porém, o Brasil é 'doente' por fazer leis que dificilmente são cumpridas. Apaixonada pelo Direito do Trabalho, ela pretende se especializar na área. Contudo, o grande projeto é ingressar na Justiça Federal, onde fez estágio. 'A adaptação e a recepção foram excepcionais', salienta.
Reconhecimento profissional e um apartamento são alguns desejos de Rafaela, que revela um sonho. 'Minutos antes do fim, até por não ser muito dada ao tato, gostaria de conhecer o rosto de minha mãe e daqueles que vivem próximos de mim', conta. Parceira e incentivadora, a mãe da garota, a professora Fátima Samurio da Silva, 41 anos, diz não ter imposto limites à filha. Como resultado, surgiu a acadêmica de Direito que cozinha, passa roupas e ainda digita os trabalhos da faculdade para a mãe, tendo o programa Dosvox como aliado

FRED MARCOVICI
fmarcovici@correiodopovo.com.br