Uruguaianense Luiz Paulo Martins Bastos (nº 1) |
Emoção, adrenalina, garra e aquele chiquetê todo que nem vendo dá para acreditar foram a tônica do centenário da Coronation’s Cup, uma das partidas de polo mais tradicionais e concorridas do mundo, que aconteceu domingo, no Guard’s Polo Club, em Windsor, Inglaterra. As tacadas foram disputadas entre Brasil e Inglaterra, com placar de 8 a 6 para os ingleses, que jogavam em casa, tinham os melhores cavalos e o moral da torcida.
Mas os polistas brasileiros são a-do-ra-dos no mundo do polo; individualmente, fazem com Argentina, Inglaterra e Estados Unidos, os quatro grandes do esporte. Pena que, ao contrário de seus pares, nossos atletas não tenham patrocínio para viajar pelo mundo e defender nossa camisa, tendo que depender da boa vontade dos ‘patrões’, empresários entusiastas que formam equipes para jogos determinados. Foi duro ver nossos bravos atletas com a camisa vazia de patrocínios correndo atrás de éguas (eram 40 no nosso lado) às vésperas do jogo para honrar a bandeira brasileira, enquanto os ingleses tinham à sua disposição verdadeiras supermáquinas equinas...
Nossa equipe era formada por João Paulo Ganon, Rodrigo Andrade, José Eduardo Kalil e Luiz Paulo Bastos. Kalil rompeu os ligamentos no terceiro tempo (são seis ao todo) e foi substituído por Luis Carlos Melo, o Calão. Foi uma partida difícil, dificílima, cheia de contusões, inclusive do lado inglês — o capitão deles, Luke Tomilinson, a certa hora precisou de uma ambulância. O lado de lá começou com um gol de vantagem, pois, pasmem, o handicap dos ingleses (27) é inferior ao dos brasileiros (29). E o herói do Brasil foi, sem dúvida, o Ganon (handicap 8, numa escala de zero a dez), que marcou quatro dos nossos seis gols e era parado a todo instante para autografar livros e camisas. Verdadeiro herói...O polo é o esporte dos reis, dos lordes, mas também fascina o povão. Espécie de futebol sobre cavalos, hipnotiza a nobreza e as massas.
No Coronation, que foi criado há 100 anos para homenagear a coroação do rei George V, avô da rainha Elizabeth II, havia de tudo um pouco: gente simples fazendo piquenique nos arredores, madames de chapéu e vestido de algodão bebericando champanhe, jovens a mil por hora dançando nas divertidíssimas tendas dos patrocinadores, e várias crianças. Quem entregou a taça aos ingleses foi o príncipe Philip, marido da rainha. Muito simpático e brincalhão, ao contrário do que se imagina, mostrou-se interessado no bem estar dos jogadores brasileiros machucados. Nossos atletas receberam de Sua Alteza uma caneta da Cartier, comemorativa aos 100 anos do torneio, enquanto os ingleses ganharam um relógio da joalheria.
O evento funciona assim: como a partida só começa às três da tarde, os espectadores chegam horas antes para almoçar. Quem não tem convite para as chiquérrimas tendas dos patrocinadores leva sua cesta de piquenique para o gramado e resolve a vida lá mesmo, com os amigos. A área vip mais concorrida é a da Cartier, que patrocina há 37 anos a Coronation e serve lagosta e champagne geladíssimo em jogos de mesa de laise bordados especialmente para o evento. Pairava um clima de tristeza no ar, já que a joalheria havia anunciado que este seria seu último ano no evento. Fui assuntar e descobri por quê: a Cartier decidiu focar seus investimentos em outros torneios, o Queen’s Cup e a Copa de Dubai. Os árabes dominam o mundo...
Bruno Astuto/O DIA