segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sem terra do Uruguai querem do Governo tratamento igual a estrangeiros


Descontentes com o tratamento dado pelo governo federal a trabalhadores rurais do norte do Uruguai, na fronteira com o Rio Grande do Sul, safristas de cana-de-açúcar, principal produto cultivado na região de Bella Union, invadiram uma fazenda de propriedade do empresário brasileiro Norman Gutierrez, na localidade de Itacumbú.
A ocupação de uma área de cerca de 500 hectares aconteceu na semana passada e durou 72 horas. O grupo composto por homens, mulheres e crianças permaneceu até o final da tarde de sexta-feira, quando uma decisão judicial os obrigou a sair do local. Esta foi a primeira invasão de terras privadas na história do Uruguai.  A terra é produtiva e estamos preocupados com esse ato”, diz Norman Gutierrez.
O assunto vem sendo tratado com grande preocupação pelo governo uruguaio que busca incentivar os investimentos de grandes empresários estrangeiros no setor primário do país. Tanto que a decisão judicial foi acompanhada de perto pelo presidente da República, José Mujica.
Desde a desocupação da propriedade do arrozeiro gaúcho, os integrantes do grupo de invasores intitulados “peludos desempregados” se instalaram em um ponto da rodovia que dá acesso a empresa Alcoholes del Uruguay (Alur), em Bella Unión. A empresa negociava com o agricultor brasileiro o arrendamento de parte da propriedade que foi invadida.
Agora o grupo quer uma maior atenção do Governo Uruguaio para seus pedidos. O principal deles é poder trabalhar em suas próprias terras. Segundo eles, os estrangeiros têm mais direitos e incentivos que os uruguaios. “O governo tem que nos atender e nos proporcionar direitos iguais dados aos estrangeiros”, diz Luiz Antônio Valdomiro, um dos líderes do movimento. 
Os uruguaios ligados a União dos Trabalhadores Açucareiros de Artigas (UTAA) tem o apoio do Movimento Sem Terra do Brasil. Segundo eles, os “Sem Terra Brasileiros” os treinam e os preparam para enfrentarem situações semelhantes ao Abril Vermelho e outras atividades. “Passei um mês em Porto Alegre, recebendo treinamento do MST e da Via Campesina”, diz Nidia Catarina Gonzalez.
Tanto que os invasores uruguaios usam até mesmo a bandeira do MST em suas instalações. O acampamento uruguaio hoje tem mais de 50 pessoas e assemelha-se muito ao que existe no Brasil. São assistidos por associações que lhes abastecem com alimentos e combustível para a manutenção de geradores de energia elétrica. 
A intenção dos “Sem Terra” é permanecerem junto à estrada até que seja criado um assentamento semelhante a outro criado próximo de Bella Union. Além disso, querem incentivos para que possam plantar. Os Peludos acreditam no passado político de esquerda do presidente José Mujica para terem seus pedidos atendidos.