
Entre os 29 acadêmicos de Direito que se formam hoje na PUCRS, em Uruguaiana, uma tem motivos de sobra para festejar a conclusão do curso. A cerimônia às 20h, no Centro de Eventos da universidade, será especial para Rafaela da Silva, 23 anos, filha única da professora Fátima Samurio da Silva. A jovem, nascida em Santa Maria, superou o mal congênito que tirou sua visão nos primeiros dias de vida. Aos 5 anos, ela já sabia ler e escrever em braile. A persistência permitiu que concluísse o curso com nota 10 na monografia sobre 'O comércio eletrônico e a aplicabilidade do Código Civil e do Código do Consumidor – a necessidade de uma lei especial'.
Rafaela recebeu da PUCRS, conforme portaria, todo o material transcrito para o braile, o que viabilizou seus estudos. De mágoas e discriminação, ela prefere não falar, mas avalia que 'a sociedade busca defeitos, podendo chegar à crueldade em determinadas situações'. Para a formanda, os deficientes contam com dispositivos importantes, porém, o Brasil é 'doente' por fazer leis que dificilmente são cumpridas. Apaixonada pelo Direito do Trabalho, ela pretende se especializar na área. Contudo, o grande projeto é ingressar na Justiça Federal, onde fez estágio. 'A adaptação e a recepção foram excepcionais', salienta.
Reconhecimento profissional e um apartamento são alguns desejos de Rafaela, que revela um sonho. 'Minutos antes do fim, até por não ser muito dada ao tato, gostaria de conhecer o rosto de minha mãe e daqueles que vivem próximos de mim', conta. Parceira e incentivadora, a mãe da garota, a professora Fátima Samurio da Silva, 41 anos, diz não ter imposto limites à filha. Como resultado, surgiu a acadêmica de Direito que cozinha, passa roupas e ainda digita os trabalhos da faculdade para a mãe, tendo o programa Dosvox como aliado.
FRED MARCOVICI
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